Um local estranho
Estava viajando sozinho de carro por uma estrada pelo interior do país, quando furou o pneu. Parei o carro, abri o porta-malas, retirei o estepe e percebi que ele esta murcho.
Fiquei nervoso, olhei para os dois lados da estrada e só enxergava canaviais, nada mais se via além disso. Encontrava-me numa estrada deserta, pela qual não passava carro, caminhão ou pessoas. Somente uma placa se avistava: Cemitério da Saudade a 1.000 metros.
Precisa trocar o pneu, estava sem estepe e sem ter a quem recorrer. Não havia um telefone público nas proximidades, não tinha como me comunicar com qualquer outra pessoa para pedir socorro.
Lembrei-me que há alguns minutos havia passado por uma vila. Talvez pudesse
voltar a pé e pedir socorro ali. Julguei, pelo tempo que passara, que essa vila devesse estar a uns quatro ou cinco quilômetros dali. O problema é que já era um final de tarde. E o local bastante sombrio. Mas não tinha outra coisa a fazer. Guardei o estepe, fechei o carro, dirigime à vila.
Andei uns dez quilômetros, sem avistar nenhum carro, nenhuma pessoa e nada de encontrar a vila. Pensei que talvez tivesse me enganado e que a vila estivesse mais longe do que imaginava. Já estava escurecendo e eu sozinho naquele lugar, sem ter o que fazer, a quem recorrer. Na hora, lembrei-me que se tivesse ido à frente teria encontrado o cemitério a um quilômetro de distância e, quem sabe, perto dele houvesse uma outra vila, comércio, um posto de gasolina, algo assim. Só que voltar agora seria uma loucura. Chegaria muito tarde.
Passei uma curva e finalmente avistei a vila. Ufa! Já estava ficando preocupado. Em poucos minutos passava pela ruazinha que saía da estrada. Vi um bar apinhado de gente.
Entrei. Pedi um café e perguntei ao balconista, provavelmente o dono, se havia algum borracheiro por ali. Ele sorriu e disse que não. Só a uns cinco quilômetros dali, entrando por uma outra estradinha que saía do final daquela rua.
Era um sujeito estranho, com uma pele bem morena e um cabelo loiro, quase ruivo.
Não tinha dentes, parecia ser muito velho, bastante enrugado. De repente, percebi que não havia mais ninguém no bar. Só eu e ele. Todos haviam desaparecido. Não entendi nada.
Expliquei pra ele minha situação.
Ele me disse que junto ao bar funcionava uma pousada e que poderia, se quisesse, pernoitar lá e de manhã poderíamos procurar o borracheiro, porque naquele horário ele já deveria estar em casa.
Eu não tinha tanta pressa e a única solução que me restou foi aceitar a proposta.
Lanchei no bar e acompanhei-o até meu quarto. Mostrou-me as dependências da pousada e disse que se precisasse qualquer coisa estaria ali.
O meu quarto era simples, com um armário e uma cama de casal com roupas de
cama e cobertor. Tinha também um banheiro simples com chuveiro quente. Eu não tinha bagagem nenhuma, portando tirei a roupa e deitei-me após tomar um banho, aliás só joguei uma água no corpo porque nem sabonete tinha. Estava muito cansado e logo peguei num sono pesado. Acordei já estava claro, com o sol entrando pela janela de vidro e sem cortina
Lavei o rosto, meio tonto, sem lembrar direito onde estava. Puxei pela memória e lembreime do pneu furado a uns dez quilômetros dali. Saí do quarto e dirigi-me ao bar, que ficava na parte da frente da pousada. Tudo fechado. Procurei pelas outras dependências e não encontrei ninguém. Aliás nada tinha por ali, além de alguns móveis e um ar de abandono total. Um vulto apareceu, tomei um susto e era um velho gato que, também assustado, passou correndo por mim, talvez até atrás de algum rato. Dirigi-me novamente ao bar, abri uma porta lateral, que estava apenas encostada e procurei alguma pessoa pela vila.
Não encontrei ninguém. Fiquei aguardando para ver se chegava alguém e nada, nenhum movimento pelas casas vizinhas e nem pela estrada.
Procurei a estrada onde deveria ter o borracheiro, andei cinco quilômetros e cheguei realimente à borracharia. Fui muito bem atendido por um homem rude, mas atencioso.
Ele estranhou que eu viesse da vila e, mais ainda, quando lhe contei onde passei a noite. Disse-me que há muito tempo a vila está abandonada e a pousada foi fechada quando seu dono, um homem ruivo, foi assassinado por um hóspede de forma brutal.
Pegou um pneu reserva, colocou em sua charrete e me levou até meu carro. Passamos pela vila abandonada e enquanto passava ia se benzendo, dizendo que aquele local era mal assombrado e que ele, quando podia, preferia dar a volta pela outra estrada para não passar por lá.Chegando ao local onde o carro estava, desci da charrete e percebi que ele estava normal, com os pneus sem qualquer problema. Fiquei atônito. Quando olhei para a charrete, ela e o seu dono haviam desaparecido. Não entendi nada. Entrei no carro, coloquei a chave e ele deu partida imediatamente. Engatei a marcha e saí de lá correndo, sem sequer olhar para os lados e sem sequer entender nada do que havia acontecido. Nunca mais entrei naquela
estrada e até hoje fico pensando naquela gente, naquele lugar.